Abaixo você confere o texto da Jornalista Dani Moura que acompanhou a série de reportagens do Canal Futura sobre a dor silenciosa do abuso sexual infantil. Texto que me emocionou pela sinceridade de não saber como lidar ou abordar o tema com seus filhos, e reportagem super informativa que vem bem a calhar na semana de conscientização nacional do abuso sexual infantil. Vale a pena conferir!
"O contrário do que diz o senso comum, muitas famílias têm histórico de abuso sexual, e muitas vezes essas histórias não saem dos próprios lares. O abuso intrafamiliar acontece em todas as classes sociais. É mais evidente e explícito nas famílias de baixa renda. Já nas classes mais favorecias, é um universo opaco, pouco acessível.
Apesar da sociedade inteira ser responsável pela proteção da criança, não conseguimos cumprir este dever com afinco. O número de casos de morte e de morbidades causadas por abuso sexual de crianças ainda é grande no Brasil. Temos medo, fingimos que não vemos, ou que isso não acontece mais em nossa sociedade.
No início de nossa civilização, a criança era vista como um objeto para ser usufruído, assim como a mulher, e parece que ainda somos assim até hoje. É assustador saber que não só meninas são abusadas, que mães escondem nos cuidados maternos atos abusivos que causam dados tão graves como o ato sexual com penetração masculina. Que os portadores da doença pedofilia correspondem ao menor numero de abusadores de crianças. Não está na hora de acordamos, e encararmos o problema de frente? Nós, repito, como sociedade, temos o papel, o dever da proteção. Então, meus caros, se virmos, ou percebermos, meninos e meninas com algum comportamento diferente do atual, apuraremos, porque os pequenos têm o direito de serem protegidos por nós.
Quando comecei a fazer esta série de reportagens, não tinha a ideia de quanto isso tudo poderia modificar a minha vida. Sou mãe de um casal. Nunca falei com meus filhos sobre o assunto e nem os preveni sobre os riscos que correm na vida social de verdade e também na virtual. Acho que porque não fui vitima de abuso sexual, não tive conhecimento de casos na minha família, mas, confesso que conhecia pessoas no meu campo social.
Só depois de entrar tão a fundo é possível entender o processo complexo, sedutor, silencioso e cúmplice na relação abusador, abusado e família. E ao ouvir, sem censura, cada vítima – pela primeira vez não consegui conter as lágrimas diante de um depoimento – posso hoje dizer que aprendi a falar sobre o tema com a tranquilidade possível, sem vergonha e sem intermédios.
Aprendi que é falando que se trata, que se ameniza, que se divide e que se cura. E claro, se previne. Com os meus filhos consegui e, hoje, já sabem o que é o abuso, como acontece, e que seus corpos pertencem a eles, e que ninguém tem o direito de fazer algo que eles não desejem. Espero que mais crianças saibam.
Transformei-me numa militante nesses 3 meses de trabalho – por isso agradeço a paciência dos companheiros de trabalho, família e amigos tão queridos que durante esse tempo tiveram ouvidos e colos. O meu desejo agora, é que a série Abuso Sexual, possa acalentar, promover a fala terapêutica e interromper o ciclo do abuso na vida das pessoas e famílias que ainda sofrem silenciosamente por esse Brasil a fora.
*Dani Moura é jornalista do Canal Futura.
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A série especial Abuso Sexual vai ao ar Jornal Futura, de 13 a 16 de maio, às 17h, na Semana de Combate à Exploração e Abuso Sexual de Crianças.
Reprise às 23h.
